segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Janela Indiscreta


Minha primeira matéria para faculdade...

Em 1954, quando foi lançado o filme Janela Indiscreta do “Mestre do Suspense” Alfred Hitchcock não se imaginava que nos dias de hoje olhar pelo buraco da fechadura seria coisa do passado. O filme conta a história de um fotógrafo que após sofrer um acidente fica em casa vasculhando a vida de seus vizinhos através de sua janela, mostrando como a curiosidade é uma característica do ser humano. Nos dias de hoje, a janela indiscreta é outra, pois a invasão de privacidade vem pela internet, revistas de fofocas, programas diários sobre a vida de celebridades e com a massificação de programas conhecidos como reality shows.

Nos tempos de Big Brother, a TV deixa de ser meramente uma vitrine para voyeurs. A curiosidade do público sobre a intimidade dos anônimos personagens em cena é tanta que esses programas a cada ano geram mais repercussão na mídia.

A funcionária pública Gilvana Dalla conta que nunca se sentiu tão atraída por esse tipo de programa como atualmente. Segundo ela, isso acontece graças a uma forte influência da mídia. Ela conta que nunca teve o hábito de assistir televisão, sempre preferiu estudar nas horas vagas e com esse grande apelo que a mídia vem fazendo em torno dos reality shows começou a se interessar e hoje é uma expectadora. ”Até quando estou em casa na hora do almoço dou uma espiadinha pela internet nas últimas fofocas”, disse Gilvana.

Já a estudante de Direito Nídia Cirino Almeida começou a assistir o reality show Big Brother porque estava de férias. Ela conta que diversas vezes chorou de emoção ao ver os participantes contarem suas dificuldades fora do confinamento. Apesar de não se identificar com esse tipo de programa, a curiosidade a aproximou da tela. Na sua opinião, todos os programas de canal aberto que passam no horário nobre da televisão são “vazios” e pela falta de boa programação as pessoas acabam optando por um programa que está sendo comentado e acompanhado pela maioria.

A discussão sobre o voyeurismo na televisão entrou nas grandes rodas intelectuais a partir dos primeiros programas do gênero na televisão, como a primeira versão de ‘No Limite’, exibido na Globo, seguido por Casa dos Artistas (SBT), Big Brother (Globo) e tantos outros. O fenômeno que apela para curiosidade pela vida alheia provoca muitas discussões pela maneira que alguns intelectuais julgam muitas vezes de perversa ou mesmo de ofensiva em relação à exposição dos participantes diante das câmeras.

A psicóloga Renata Bastos acredita que as pessoas perdem seu tempo assistindo esses tipos de programa por falta de senso crítico. “O big Brother é a invasão de privacidade num limite além do imaginável e é por isso que faz sucesso. Realitys não podem ser vistos como programas culturais. O Brasil está em degradação em termos culturais e morais, e mesmo que a televisão apresentasse programas mais culturais, eles não seriam vistos porque a grande massa gosta de ver e saber sobre a vida das pessoas e optam por esse tipo de programa.”

Ela acha que as pessoas que assistem saem prejudicadas porque sofrem uma influência negativa, em função da apresentação de muita promiscuidade, infidelidade e individualismo. Para ela, é deprimente a participação dos anônimos, já que eles têm a vida exposta e a edição do programa faz com que o telespectador tenha simpatia ou aversão aos participantes. É a expressão da maldade humana, o prazer de ver e ser visto é exagerado e o pudor é descartado.

Vários desses programas estão nas grades televisivas há alguns anos com sucesso total de audiência. Não podemos ignorar esses dados. A modernidade e os recursos tecnológicos oferecem a qualquer pessoa a oportunidade de montar seu próprio reality show, em uma versão on-line, mostrando até mesmo o que nunca foi visto nos buracos das fechaduras.

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